sábado, 14 de julho de 2012

Vida fácil

- Não adianta, nasci para viver o sexo por amor. Fosse diferente, morreria!
- Que besteira, menina! Sexo pelo sexo e por sexo é bem proveitoso.
- Não entendo como vocês conseguem... homens desconhecidos, sabe-se lá se são doentes...
- Ei, mocinha! Só transo de camisinha! Sou doida não!
- Mas, sem amor...
- Liza, não tenho namorado e não gosto de ninguém, neste momento. Vou ficar sem transar? Claro que não aguento! Então, junto o útil ao agradável – transo e ganho meu dinheiro. Preciso pagar minha faculdade, comprar roupas, manter parte do apartamento...
- ...
- Se tivesse um namorado de quem gostasse, talvez fosse diferente...
- E você não fica triste por sair dando pra qualquer um?
- Que diferença faz? Quando coloco meu dinheiro no bolso, fico bem feliz!
- Mesmo assim... beijar uma boca estranha...
- Quem disse que eu beijo, assim, assim? Com beijo é mais caro, bem mais caro!
- Eu nunca teria coragem!
- Não sabe como é bom ter uma conta bem gordinha no banco.
- Morro de curiosidade por uma coisa...
- Diga lá!
- O que é que você faz sem amor, que eu não faço por amor?
- Segredo de puta...
- Vocês fazem papai e mamãe?
- Claro, tem homem que só gosta assim.
- É mesmo?
- É... alguns até pagam só pra olhar...
- Olhar o que?
- Segredo de puta...
- E... sexo anal... você faz?
- Claro! Eles adoram!
- Então, faz sexo oral, também...
- Uai! Sou puta da boa! Faço de tudo!
- O que significa esse “de tudo”?
- Segredo de puta, já falei. Se quiser saber, tem que ir pra guerra, também.

Malu levantou-se rebolando, entediada com aquele papo sem futuro.

Liza não se conteve:

- Posso fazer a última pergunta?
- Ah! Chega!
- Só umazinha... morro de curiosidade!
- Ok, pergunte.
- No rala e rola, você goza com eles?

Malu abriu a geladeira, apanhou uma garrafa e tomou a água gelada no gargalo, mesmo. O líquido que lhe escorreu pelo pescoço – prazeroso - parecia responder à pergunta indiscreta. Lançou um olhar cheio de malícia para Liza, arrancou a roupa, deixando à vista um corpaço dourado de sol e num sorriso respondeu: - O que você acha? Em seguida, soltou uma gargalhada malandra e entrou no banheiro, não sem antes provocar: - Experimenta...

- Deus me livre! Só dou por amor!

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Noite seguinte, 23 horas.

- Oi! Que amiga bonita Malu enviou!
- Oi... obrigada.
- Entra...

Lício, nem alto nem baixo, moreno atlético, foi educado e gentil, acompanhando-a até o sofá erguido em estrutura de madeira escura e estofado branco.

- Quer beber alguma coisa? Vinho? Uísque?
- Aceito vinho.

Sentados, conversaram o tempo que durou aquela garrafa de vinho. Lício perguntou-lhe a idade, sobre a faculdade, o que gostava de fazer na vida e na cama... Nesse ponto, puxou-a para si. Liza correspondeu às carícias e surpreendeu-se pelas exímias atividades sexuais do companheiro. Por isso Malu não abandonava aquela vida. Que delícia! Após três horas de prazer intenso, Lício retirou o dinheiro da carteira e pagou-a. Abriu a porta, levou-a até o elevador e despediu-se com um beijo no rosto. Ah! Agora sabia o segredo das putas - só prazer!

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Noite seguinte, após cruzar por diversos seguranças, Liza apertou a campainha da mansão na Zona Oeste da cidade. Um elegante homem, conquanto franzino, abriu a porta, convidando-a a entrar. Que requinte! Nunca vira tamanha beleza! Subitamente, beijou-a. Entusiasmada, entregou-se aos braços que a apertavam sofregamente.

Não teve tempo nem de gritar. Foi violentada ali mesmo, na poça de sangue que jorrou do pescoço cortado à navalha.



Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2010 – 21h58
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz